24 de julho de 2013

Paradeiro de sobreviventes da chacina da Candelária é desconhecido

23/07/2013 - 03h30
FABÍOLA ORTIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Passados 20 anos da chacina da Candelária, no Rio, quando oito jovens foram mortos por policiais, o paradeiro de grande parte dos sobreviventes é desconhecido.
Desde o crime, em 1993, 44 dos 70 jovens que dormiam nas ruas no centro perderam a vida de forma violenta. As vítimas eram, em sua maioria, negros e pobres.
"Ninguém sabe exatamente a identidade das pessoas que dormiam na Candelária. É difícil dizer com precisão quem são os sobreviventes", disse o assessor de direitos humanos da Anistia Internacional Maurício Santoro.
"Nenhum governo fez qualquer movimento para mapear esses jovens", disse Patrícia Tolmasquim, integrante do movimento 'Candelária Nunca Mais'.
Faltavam 15 minutos para a meia-noite, em 23 de julho de 1993, quando dois carros com as placas cobertas por plástico se aproximaram da praça Pio X.
Ali, nas proximidades da igreja da Candelária, dormiam as crianças e adolescentes, que foram alvo dos tiros do grupo de homens.
Três pessoas foram condenadas, a penas que foram de 204 a 309 anos de prisão, mas estão em liberdade, beneficiadas por indulto ou em condicional: Marcus Vinícius Emmanuel Borges, Nelson Oliveira dos Santos e Marco Aurélio Dias de Alcântara.
Um dos suspeitos, Arlindo Afonso Lisboa Júnior, ainda não foi julgado pela chacina --ele foi condenado a dois anos por ter em seu poder uma das armas do crime.
Fernando Frazão/ABr
Familiares e grupos de defesa dos direitos humanos se reúnem em vigília pelos 20 anos da Chacina da Candelária, no Rio
Familiares e grupos de defesa dos direitos humanos se reúnem em vigília pelos 20 anos da Chacina da Candelária, no Rio
TESTEMUNHA
Um jovem se tornou a principal testemunha no processo. Wagner dos Santos sobreviveu, apesar de ter levado quatro tiros.
O testemunho dele ajudou no indiciamento de cinco policiais militares como autores do massacre.
Em setembro de 1994, Wagner sofreu um atentado na Central do Brasil e, ameaçado, deixou o país. Hoje, aos 40 anos, vive na Suíça e enfrenta sérios problemas de saúde.
"Wagner é o sobrevivente mais famoso. Foram tantos tiros (um está alojado na coluna) que ele teve envenenamento por chumbo (saturnismo), sequelas físicas e psicológicas. Teve perda parcial de visão, audição e paralisia no rosto. Pagou um preço muito alto", disse Santoro.
Segundo a família de Wagner, o rapaz recebe do governo brasileiro dois salários mínimos por mês.
"Ele guarda muita mágoa pela falta de respeito", disse a irmã, Patrícia de Oliveira.
Outro personagem da chacina da Candelária que teve fim trágico foi Sandro do Nascimento, morto pela polícia em junho de 2000, no episódio do assalto ao ônibus 174.

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